terça-feira, 24 de abril de 2012

INSTINTO PRIMITIVO




                        

               Quando se julgam suficientemente realizados, queira no ambito económico ou intelectual, muitos se desgastam perante um olhar social. Julgar diferentes de outros é um instinto primitivo, até ousam alguns negar suas origens, contentando-se a volta de seus amigos que preferem íntimos, para não se juntar a uma cambada de inletrados ou menos instruidos.
            Não têm argumentos, qual o motivo, que safisfaça a quem quer que seja,perante o seu insípido modo de vida. É de estranhar um menino que aprendeu a jogar bola de farrapos com os petizes da sua idade, depois de se arrumar academicamente, nega-los a uma possível aproximação, a pretexo de se ter singrado na vida de uma maneira peculiar, sendo assim julga ele ter passado para uma nova elíte.
            Por vezes é preciso reparar a volta e ao nosso umbigo, e  em diante julgar a vida como as ondas do mar, que se revoltam entre si para depois dar lugar as areias, essas, não mudam nem de lugar!
            O seu fluxo que lhe faz sentir ébrio, é como as ondas do mar e própria vida tem o seu limite de caducidade. Os homens foram concebidos pelo Criador para serem diferentes, e a sua diferença é a sua identidade. O modo de vida difere como os nossos semblantes. O homem de letras ou ciências precisa ponderar a vida, utilizando o conhecimento que tem para não ser confundido.
            Seja livre e ame a sua identidade, faça algo para sua terra, especialmente onde o seu ser emergiu pela primeira vez como uma vida. Para que não venha se envergonhar pela sua terra natal perante seus, é preciso que dê a mão aos pressupostos dessa terra para se evoluir.
            Há várias maneiras de saudar, um simples olá, uma palavra de conforto, um aperto de mão se for o caso ou apenas um aceno. É maneira mais inteligente e civilizada de dar conforto a quem precisa para se erguer ou cavalgar.
Formas mais simples de ser, para não ter conotações perniciosas é procurar ser justo consigo e comunicativo.
             Fingir ser o que não é, reduz a capacidade de reputação perante a sociedade, especialmente nos nossos “camaradas”(amigos) da infância que jogaram connosco a bola de farrapos.
             Um grande homem tenha uma terra natal e uma vida ensopada de acenos e recíprocidade, foi esse o grande sonho que sempre teve o meu grande amigo o Doutor Nhansôa.

terça-feira, 10 de abril de 2012

MEMÓRIAS DE PORTUGAL


Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo doPlano Marshall.
O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão. 
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.


Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo numa altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir, a esta distância, a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo".  Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - Não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo.  O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não  era alternativa a considerar.  A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral "perpétuo" da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas, ao tempo, por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando, há dias, vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado, pública e grosseiramente, pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses, de hoje, nem esse consolo tem.
Estoril, 18 de Abril de 2010
Luís Soares de Oliveira