quinta-feira, 16 de maio de 2013

Mais revelações do Inferno


Como já é do conhecimento de todos, a morte de Filipe Magaia foi planeada e mandada executar pelo Samora Machel, por dois motivos essenciais, o primeiro de ambição do poder, a fim de ser nomeado pelo Eduardo Mondlane chefe do dispositivo militar e de segurança da Frelimo e o segundo, ficar com a viúva de Filipe Magaia, Josina Muthemba, mais tarde, Josina Machel.
De acordo com vários historiadores, cuja credibilidade nunca foi posta em causa, este foi o primeiro passo dado pelo Samora Machel para a tomada, a prazo, do poder na Frelimo e é, neste fase, que entra a facção marxista-leninista e maoísta desta organização. Havia necessidade de eliminar todos aqueles que se opunham à tomada do poder por esta facção liderada pelo Samora Machel e que tinha, na sua retaguarda, homens como Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos, Alberto Chipande, Mariano Matsinhe, Armando Guebuza, Castiano Zumbiri, Sérgio Vieira, Sebastião Mabote, Jacinto Veloso e tantos outros.
Josina_machelJosina Muthemba Machel
O plano ensaiado por esta facção começa com a eliminação do comandante da DSD, Filipe Magaia e acaba com a eliminação do próprio Eduardo Mondlane que tinha dado cobertura a todas a acções empreendidas pela facção liderada pelo Samora Machel, pelo que Eduardo Mondlane veio a ser vítima da sua complacência com a ambição do Samora Machel.
Devo recordar que o Samora Machel, em termos de formação, nunca passou de ajudante de enfermagem e que a sua a sua instrução não passou dos campos de treinos de guerrilha, na Argélia, e, posteriormente, da instrução política e guerrilheira na China maoísta.
Samora_machelSamora Machel (Libertador ou Assassino?)
O assassinato de Filipe Magaia já foi descrito num artigo deste Blog, mas, no entanto, há necessidade de escrever algo mais acerca deste assunto e dar a conhecer a todos mais alguns dos assassinos envolvidos nesta morte que deixou de ser misteriosa. O tiro que, na emboscada, atingiu Filipe Magaia foi disparado pelo seu camarada Lourenço Matola e entre os elementos envolvidos na operação, encontrava-se um tal Lino Ibrahimo que, com a colaboração dos elementos envolvidos no assassinato, transportaram o moribundo Filipe Magaia para a fronteira de Moçambique com a Tanzânia. O Lourenço Matola foi entregue aos militares tanzanianos e desapareceu. Todos os outros foram levados para o campo de Nachingwea, onde, alguns foram fuzilados, de imediato, e outros enviados para bases no interior de Moçambique, onde tiveram a mesma sorte. O tal Lino Ibrahimo foi enviado para a base Beira, em Cabo Delgado, onde foi abatido pelo actual general João Facitele Pelembe, comandante da base, quando procurava abrigo de um ataque aéreo efectuado por aviões T6 das FAP  (Força Aérea Portuguesa).

Graca_machelGraça Machel ( e esta senhora não tem nada a dizer?). Afinal, foi esposa de um criminoso.
Samora Machel procurou, por todos os meios, eliminar todas as testemunhas deste acto criminoso, tal como veio a suceder com o assassinato do Eduardo Mondlane com a conivência do presidente tanzaniano, Julius Nyerere.

LISTA DE ELEMENTOS ELIMINADOS PELA FRELIMO
1.º Padre Timóteo Uria Simango – Vice-Presidente da FRELIMO - Queimado vivo em Metelela (Niassa
2.º Padre Mateus Gwengere - Idem
3.º Filipe Samuel Magaia – Departamento de Segurança e Defesa (DSD)
4.º Casal Ribeiro – Vice-Chefe do DSD
5.º Francisco Manhangá - Envenenado no Hospital Muhimbiri (Secretário da Defesa P. Tete)
6.º Lazaro Kavandame – Secretário da Defesa - Cabo Delgado
7.º Alberto Mutumula - 1º Comissário Politico - Zambézia
8.º António Silva – 1º Comandante e Defesa P. Zambézia e Niassa
9.º António Mpindula – Adjunto Comandante e Defesa P. Zambézia
10.º António Jahova – 1º Comandante e Defesa – Mutarara, Tete
11.º Alberto Sande – Chefe do 1º Campo de Treino Kongwa - Tanzânia
12.º Luís Arrancatudo – Instrutor Campo Bagamoyo - Tanzânia
13.º José Alves -1º Secretário Provincial - Zambézia
14.º Alexandre Magno – 2º Secretário Provincial - Zambézia
15.º Alves Couviua - Combatente
16.º Luís Njanji – Comandante - Tete
17.º Armando Malata – Responsável de Material Bélico - Tete
18.º António Machado – Comandante (natural da Zambézia)
19.º António Mazuze – Comandante em Marupa – Niassa (Natural de Gaza)
20.º Frackson Banda – Comandante Destacamento Tete
21.º Manuel Mumba – Comissário Politico (Natural Tete)
22.º Lino Ibrahimo – Comandante FRELIMO fuzilado em Cabo Delgado
23.º José Mandindi – Comissário Politico (Natural Niassa)
 24.º José Rivas – Comandante Base Furancungo - Tete
25.º Dr. Cambeue – Um dos Dirigentes da COREMO (Natural de Murumbala – Zambézia)
26.º Basílio Banda – Líder MONIPAMO e opositor da FRELIMO (Natural do Niassa)
27.º Dr.ª Joana Simeão – Vice-Presidente da GUMO. Queimada viva em Metelela
28.º José Nicodêmo – Dissidente da FRELIMO (Natural da Zambézia)
29.º Félix Mendes - Combatente da FRELIMO (Natural de Tete)
30.ºAntónio Ferrão – Comandante da FRELIMO (Natural de Tete)
31.º Francisco Cúfa – Um dos Lideres da FRELIMO (Natural da Zambézia)
32.º Augusto Nababele – Combatente (Natural da Zambézia)
33.º Josina Mutemba – Ex-namorada de Filipe Magaia, e posteriormente esposa do Samora, envenenada no hospital de Muhimbiri – Dar-es-Saalam. (Natural de Quelimane)
34.º Sara Tomás – (Natural de Tete)
35.º Silvério Nungo – Dirigente da FRELIMO, Fuzilado em CABO DELGADO (Natural de Manica e Sofala)
36.º Joaquim Matias – Comandante de Bagamoyo (Natural de Cabo Delgado)
37.º Fernando Napulula – Comandante de Cabo Delgado (Natural de Cabo Delgado)
38.º Raimundo Dalepa – Comandante (Natural de Cabo Delgado)
39.º Dunía Nkunda – Comandante (Natural de Cabo delgado)
40.º Carlos Nunes - Comandante (Natural da Zambézia)
41.º António Fabião - Combatente (Natural da Zambézia)
42.º António Quembo - Combatente (Natural de Tete)
43.º Francisco Mutamanga - Chefe das Operações de Manica e Sofala (Natural de Manica e Sofala)
44º Damião Piri – Comandante (Natural de Tete)
45º Paulo Gumane – Queimado vivo em Metelela
46º Pedro Mondlane - Idem
47º Celina Simango - Idem
48º Júlio Razão - Idem

Em_memoriaEm memória de todos os que foram assassinados pela Frelimo
Tanzânia – Nachingueia – Janeiro 1975 – Apresentação dos ditos “reaccionários” depois de uma noite de tortura. Da esquerda para a direita: pintor João Craveirinha; estudante José Francisco, 1º Comdt. de mísseis Pedro Simango; Dr João Unhai (médico); Prof. Dr. Faustino Kambeu (Direito Internacional); professora Celina Muchanga Simango (esposa do Rev. Uria Simango). 
Esta é uma pequena lista que inclui os nomes de alguns fundadores da FRELIMO, bem como dos seus comandantes e Combatentes. Existem muitos outros cujos nomes que irão ser divulgados ao longo dos tempos, mas, como disse, é uma pequena amostra dos crimes cometidos pela Frelimo, durante e após a luta armada.

(Excertos do livro a publicar por um ex-comandante de guerrilha da Frelimo)

Ovar, 25 de Outubro de 2009   
 Álvaro Teixeira (GE)

quarta-feira, 8 de maio de 2013

SOLUÇÃO URGENTE



Mutarara é um distrito ao sul da província de Tete, cercado por dois rios Zambeze e o Chire, com esta situação geográfica este distrito vive isolado em relação ao acesso aos outros pontos do país.Muitos nacionais naturais de Mutarara preferem passar toda a sua vida fora do distrito,as manobras para se chegar em Mutarara são extremamente complicadas. De Tete para Mutarara a estrada é intransitável e extremamente perigosa,para se chegar em Mutarara, muitos de Tete têm-se optado via Malawi, o que requer o passaporte e certos tratamentos aduaneiros. De Quelimane para Mutarara, usa-se batelão que liga o distrito de Morrumbala e Mutarara através do rio chire,está via nem sempre está transitável em épocas de chuvosas. Os de Maputo,Beira e Chimoio para chegarem em Mutarara precisam de utilizar os seus veículos apenas em território de Sofala até a Vila de Sena, para Mutarara não podem chegar com os seus meios de transporte, que a ponte sobre o rio Zambeze em Sena é apenas ferroviária. O nosso apelo a quem de direiro, é pelo menos colocar um batelão Sena-Mutarara, a manutenção adequada ao troço rodoviário Moatize-Mutarara e a construção de uma ponte sobre o rio Chire, ligando assim Morrumbala e Mutarara. Também não é menos importate o troço do rio chire até Mutarara, esse troço em tempo de chuvas é totalmente intransitável!
Muitos filhos de Mutarara receiam visitar os seus parentes em Mutarara, temendo sacrifícios incomensuráveis que irão sujeitar para chegar a sua terra natal e abraçar os seus familiares. Todo o cidadão que conhece Mutarara ressente esse dilema, e os agentes económicos, esses pensam mil vezes para investir em Mutarara, que já foi aprovado economicamente, é viável investir em zonas de acesso fácil. O comboio não é a solução para os agentes económicos locais, o comboio é direccionados aos mineiros em Tete, como prioridade. Mutarara precisa uma saída uma solução urgente!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

ELES TÊM MEDO DE NÓS





Somos incapazes de fiscalizar os nossos recursos naturais e de proteger, devidamente, as nossas fronteiras. O saque aos nossos recursos e fauna bravia não nos deixa mentir. No entanto, a Força de Intervenção Rápida anda fortemente armada o que é, no mínimo, estranho para um país em paz. Ou seja, vivemos amordaçados por um Governo que, pelos gastos em material bélico, está voltado para a repressão aos seus cidadãos e não para proteger as suas/nossas fronteiras. O que prova, sem grandes dificuldades, que o Executivo teme os cidadãos que dirige.
Importa, portanto, questionar a raiz do medo. O que leva um Governo eleito com maioria a agir de tal forma? Qual é a necessidade de armar até aos dentes a PRM, sobretudo quando a retórica governativa fala de um povo maravilhoso e trabalhador? Afinal a legitimidade da Frelimo não assenta na democracia das urnas?
É provável que sim. Contudo, os resultados das eleições dizem mais da qualidade do povo que somos do que da competência governativa da Frelimo. Descontando, também, o facto de o grosso dos moçambicanos não exercer tal dever importa salientar que, em grande parte do país, os cidadãos desconhecem a existência de qualquer direito.
Nem é preciso andar muito pelo país para deparar com tal realidade. Grande parte dos moçambicanos que reside nas áreas onde a informação e a educação ainda não chegaram acredita que um posto de saúde é um favor.
Essas pessoas não falam da distribuição de riqueza porque a desconhecem e nem pensam que têm direito à Educação. Portanto, quando sentem os açoites da vida madrasta não é para o Governo que olham, mas para os seus antepassados. A morte, a doença e as calamidades naturais, nesses espaços, não são explicados pela ausência de políticas públicas, mas pela zanga de um antepassado qualquer a quem não se deu a devida atenção na época da colheita. Essas pessoas que realizam o seu desejo de consumo no período das campanhas eleitorais não representam, de forma alguma, um perigo para a Frelimo. Exigem camisetas, capulanas e bonés porque precisam de roupa para esconder o corpo. Portanto, o problema que enfrentam, aos seus olhos, não é da escolha de liderança, mas da satisfação de necessidades imediatas. Questionar ainda não é uma prioridade.
Não é com esses que o Governo se preocupa quando apetrecha a FIR de material de guerra. O inimigo da Frelimo reside nos grandes meios urbanos. Onde a contestação é maior e a informação circula sem que ela possa controlar. É, portanto, para o meio urbano que a FIR é treinada e armada. Aliás, os resultados eleitorais do MDM, na cidade de cimento, revelam a razão do medo. O meio urbano já se libertou das amarras da história libertária e da gratidão que justifica tudo.
É de nós, portanto, que a Frelimo tem medo.
@VERDADE – 18.04.2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Três décadas após a independência: Zimbabwe finalmente recupera sua terra






QUANDO 170 mil agricultores negros ocuparam 4 mil fazendas de brancos no Zimbabwe, em 2000, causaram uma onda de choque em todo o mundo. Uma década depois, os novos agricultores estão se saindo relativamente bem. Melhoraram as suas condições de vida e tornaram-se cada vez mais produtivos.
Maputo, Terça-Feira, 16 de Abril de 2013:: Notícias
Este é o mote do livro intitulado “Zimbabwe takes back its Land” (Zimbabwe recupera a sua terra), da autoria de Joseph Hanlon, Jeanette Manjengwa e Teresa Smart, numa obra que é lançada amanhã em Maputo. Os autores do livro mostram de forma inteligente que apesar da instabilidade política, estagnação económica e incompreensível hiperinflação, os zimbabweanos assumiram o comando dos seus destinos de forma criativa. No Zimbabwe, os pequenos agricultores (que surgiram com as ocupações forcadas de fazendas nos anos 2000) são hoje mais produtivos do que os agricultores comercias e mecanizados. Empregam mais pessoas e contribuem cada vez mais para a redução da pobreza.
O Notícias conversou com Joseph Hanlon e Teresa Smart, na véspera do lançamento da obra. Eles partilham algumas histórias sobre o processo de reforma agrária no Zimbabwe.
NOTÍCIAS (Not) - No livro abordam a questão da reforma agrária no Zimbabwe, onde o acesso à terra foi sempre uma questão contenciosa, muito antes da independência em 1980. Podem dar-nos um historial, na vossa percepção, do processo de reforma agrária?
TERESA SMART (TS) - Primeiro se voltarmos a 1930 foi aprovada a Lei de Repartição de Terras que dividiu a terra com base racial, onde 51 por cento foi dada a um pequeno número de “europeus”, a designada terra dos brancos, 36 por cento da terra designada de reserva foi para a maioria dos camponeses africanos. Com esta divisão, grande número de agricultores africanos perdeu o direito à terra na qual trabalharam durante gerações. Mais tarde, depois da segunda guerra mundial o Governo decidiu trazer um grande número de agricultores europeus para ocuparem a terra. Primeiro Houve uma grande campanha, primeiro para os rodesianos brancos veteranos da Segunda Guerra Mundial, que foram atribuídos terra e subsidiados. Depois houve um encorajamento para se trazer veteranos da guerra europeus não agricultores que foram dados terra e empréstimos para trabalha-la. Entre 1945/58, mais de 100 mil famílias camponesas africanas foram afastados das suas terras, de forma violenta.
JOSEPH HANLON (JH) - Algumas foram afastadas com armas em punho, de forma muito desagradável. As pessoas foram tiradas à força, quase que entulhadas em camiões e mandadas embora. Ainda hoje encontramos pessoas acima dos 60 anos, cujos avos foram afastados das terras e muitos desses tornaram-se combatentes de luta de libertação do país. Portanto, a luta de libertação foi motivada pela terra, os veteranos de guerra acreditavam que com a chegada da independência teriam acesso automático à ela (terra).
Not - Mas não foi o que aconteceu, anos mais tarde a ocupação de terras pelos veteranos da luta de libertação teve que ser igualmente à força…
TSDepois houve os acordos de Lancaster House, que possibilitaram a independência do Zimbabwe. Os acordos preconizavam um período de 10 anos para se iniciar a reforma agrária, na base de compra e venda por vontade. De facto 75 mil famílias foram atribuídas terra neste sistema, só que não era a melhor terra, porque os farmeiros brancos não vendiam a sua melhor terra, vendiam terra que não era muito útil, isto é, fértil.
Not- Querem dizer que no fundo, a independência não trouxe terra aos Zimbabweanos?
JH- Trouxe e não trouxe. Por causa do sistema de compra e venda por vontade, alguma terra foi transferida, mas não a melhor. Portanto, as 75 mil famílias foram dadas terra, mas era terra marginal dos farmeiros brancos. O problema não foi resolvido, os negros continuavam a não ter acesso à terra arável. Continuou a existir a terra rica nas mãos dos brancos que não foi transferida para os negros.
TS- Na terra que foi transferida ficou demonstrado que os agricultores africanos queriam produzir e produziam alguma coisa. O que aconteceu é que boa parte da melhor terra foi para as elites ou pessoas ligadas ao Governo. Mas uma grande parte dos veteranos de guerra zimbabweanos não obteve terra ou não lhe foi atribuída aquele recurso neste processo. Portanto, nos 20 anos seguintes havia um desfasamento muito grande, os veteranos se zangaram e ficaram agitados porque não tiveram acesso à terra. O mais drástico foi que o governo foi forçado a aceitar os programas de ajustamento económico do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) o que provocou dificuldades económicas grandes. A indústria têxtil fechou, os trabalhadores perderam os seus empregos, os subsídios para a produção de milho por pequenos agricultores foram cortados e os preços da comida subiram.
JH- Um número significativo de pessoas perdeu seus empregos - mais de 70 mil pessoas -, o que criou um descontentamento de muita gente que lutou pela independência, pois pensava que a guerra não lhe trouxe ganhos. O que é interessante é que o Governo começou a procurar apoios de doadores para pagar a reforma agrária no sistema de compra e venda livre e por vontade. Houve uma conferência em 1988 em que esperavam conseguir dinheiro para pagar a terra, mas os doadores disseram não. Nessa altura houve muita agitação, muitas discussões. Finalmente, na verdade os veteranos de guerra estavam contra Mugabe e contra a ZANU e diziam que havia uma elite que estava a ficar rica, enquanto para eles que lutaram pela independência não havia nada. Chegou-se a 2000 e os veteranos disseram nós vamos levar a terra. Não havia tantos veteranos assim, o que eles fizeram foi organizar-se e ir aos bairros periféricos mobilizar as pessoas, apelando aos desempregados para aderirem às ocupações. Num fim-de-semana longo de Páscoa eles ocuparam mil fazendas. O que aconteceu a seguir é que o Governo mandou os ministros dizer que não se podiam ocupar as farmas, mas debalde. Finalmente em meados de 2000 o Governo aprovou uma lei que legalizava as ocupações feitas e não autorizava mais. Mas depois disso mais três mil fazendas foram ocupadas e foram sendo legalizadas, acabando por se legalizar tudo na reforma agrária acelerada. Mugabe começou a ver que tinha mais de 100 mil famílias nessas terras e que eram potenciais votantes, por isso a legalização foi uma decisão política O mais importante para nós é que a ocupação não foi feita por Mugabe, foi feita contra a vontade de Mugabe. Ele veio mais tarde a abraçar o processo por motivações políticas.
Not- Mas isso teve as suas consequências, como as sanções económicas…
JH -Mugabe tomou a decisão por motivos eleitorais, mas enfureceu o mundo de fora. O que aconteceu foram as sanções que mergulharam o país numa crise financeira e o Governo começou a imprimir dinheiro, criando uma hiper inflação. Durante o período de 2003 a 2008 a inflação piorou, mas estes novos agricultores estavam-se saindo bem, estavam a produzir mesmo contra a corrente das coisas. E, em 2009 houve a dolarização da economia, o que levantou a agricultura zimbabweana. Os agricultores que apareceram com as ocupações facilmente se tornaram agricultores comerciais e vendiam bem o seu produto. Após a dolarização assiste-se ao levantar do voo da agricultura zimbabweana.
TS- Entre 2010 e 2011 passamos um tempo no terreno, no Zimbabwe, conversamos com os agricultores, verificando o que havia acontecido, porque até àquele momento, os relatos que ouvíamos sobre a reforma agrária era de que a terra estava vazia, não se produzia, estava a ser perdida e muitos passavam fome. Fomos dar uma olhadela e ficamos espantados porque os relatos não eram verídicos. Visitamos fazendas diferentes em três províncias e pudemos ver que estava a ser cultivadas.
Not- O que estava a acontecer realmmente no terreno?
JH- Muitas machamabas estavam a ser cultivadas. Muitas pessoas estavam a cultivar a terra e um terço dessa gente estava a sair-se bem, mesmo sem ter acesso a dinheiros ou subsídios. Os agricultores reinvestiam na terra o que ganhavam. O que descobrimos tem suporte de um relatório do Banco Mundial divulgado em Novembro de 2012, que diz que actualmente a produção nas terras ocupadas está voltando aos níveis de 1990. Ao olharmos para a média dos anos noventa antes da reforma agrária, o milho está-se aproximando dos 75 a 79 por cento, o tabaco está crescer espantosamente (o tabaco foi sempre uma cultura dos brancos mas agora está com os pequenos agricultores negros). Quarenta por cento do tabaco vem desses farmeiros.
TS- Fizemos uma pesquisa em três farmas de brancos que foram divididas em pequenos campos de seis hectares, sobre que culturas produziam, qual era a produção e o que venderam nas colheitas de 2009 e 2010 colheita, ao mesmo tempo que perguntávamos onde obtiveram o dinheiro para investir e se tornarem farmeiros de sucesso. Temos histórias incríveis. Temos o caso de um agricultor de tomate que era um segurança. Ele teve que hipotecar a sua casa em Harare para obter capital para investir na sua fazenda.
Conta que nos primeiros dois anos investiu mais na limpeza da vegetação existente na terra. Depois apostou no plantio de tomate porque sabia que podia vender, onde podia vender e sabia que era uma cultura constante. Ele planta de forma faseada para ter sempre tomate para colher e colocar no mercado. O agricultor agora expandiu a sua área de cultivo e introduziu a batata. Esse agricultor nos disse que para se ser bem sucedido é preciso ter um plano de investimento concreto, não ter receio de arriscar e ter que investir na terra. Ele vive numa casa modesta, mas provavelmente esteja a fazer muito dinheiro, conduz um carro velho e ele e a esposa trabalham todos os dias do amanhecer até ao por do sol. Ele agora é um grande agricultor porque reinveste o que ganha na sua fazenda. O mais importante é o reinvestimento. Não gastas todo o dinheiro que arrecadas.
Not- Qual é a percentagem de agricultores brancos no Zimbabwe neste momento e como é que estão se saindo?
JH: Nós estimamos que existam 200 farmeiros brancos em actividade. A maioria mudou para o comércio ou subiu na cadeia de valor ou abraçaram a exploração de tabaco. O que é espantoso é que muitos farmeiros negros aprenderam as suas habilidades, tiveram conselhos de farmeiros brancos. Existe um branco, cuja farma foi dividida por parcelas de 6 hectares e que convive com os negros e partilha a água e outros recursos. Ele tem uma fazenda onde cria gado, uma boa raça, e ajudou os outros vizinhos a criarem melhor o seu gado, chegando mesmo e emprestar machos de uma raça superior para cruzar com gado shona. A sua visão é que como um criador de gado tem que ter, como vizinhos, os melhores criadores de gado. Quando chegou a ocupação de terras ele já era conhecido como um homem que ajudava aos outros. O mais interessante é que quando os ocupadores chegaram convidou-os a sentarem e negociar. Eles disseram-no que queriam repartir a sua terra e ele disse que podiam faze-lo sem problemas. A ele só interessava ter acesso ao rio e manter os seus trabalhadores. Este criador optou por ficar no Zimbabwe e possui uma fazenda. Ele disse que ficou porque ele previu a reforma da terra. Um dos problemas é que muitos farmeiros brancos não previram a chegada das reformas.
Not - Qual é a situação actual dos agricultores zimbabweanos?
TS-O que se assiste hoje é que agricultores de sucesso com pouco dinheiro começaram a prosperar. O movimento foi liderado por mulheres, cujos maridos tinham empregos. Os maridos continuavam a arcar com as despesas com escola e alimentação, enquanto elas investiam as suas poupanças na primeira produção. Depois da produção, elas vendiam e o dinheiro era utilizado para comprar insumos para a época seguinte. Investiam na terra enquanto os maridos continuavam a arcar com as despesas domésticas. Depois de alguns anos elas dizem que facturam mais que os maridos e que estes, por sua vez, têm orgulho delas. Os agricultores estão voltando aos níveis dos farmeiros brancos nos anos 90 mesmo sem subsídios. O mais importante no Zimbabwe é que os serviços de apoio a agricultura são muito bons, nomeadamente a extensão agrária. Fomos a uma feira agrícola e vimos como os pequenos agricultores prestavam atenção às explicações das empresas fornecedoras de insumos. Tomavam notas para depois seguirem as instruções. O elevado nível de escolarização dos adultos no Zimbabwe torna as coisas mais fáceis.
Not- Porque dizem no livro que o Zimbabwe está a recuperar a terra?
JH - A educação joga um papel importante, mas também o reinvestimento e os serviços de extensão. A combinação destes factores e também a paixão pela agricultura, a forma como a ocupação foi feita. Muita terra foi dada a pessoas pobres que não só queriam ter um pedaço de terra, mas ocuparam porque queriam trabalhar a terra. Essas pessoas são sérias e estavam preparadas para tal. O que aconteceu foi que as pessoas queriam voltar às machambas, queriam cultivar e acreditavam na agricultura. São pessoas interessadas na agricultura e estão preparadas para trabalhar e investir na área.
TS- O título do livro significa que são os zimbabweanos que estão a recuperar a terra que lhes pertenceu. Estivemos no Zimbabwe recentemente e as pessoas gostaram do título. É um título político, um título prático, pois quanto mais olhamos para a história do Zimbabwe isso é correcto, porque a terra havia sido tirada dos zimbabweanos. Primeiro, pelos rodesianos e depois pela Lei da Repartição de Terras. Hoje, quando falamos com os que lutaram pela independência e os que cultivam a terra actualmente o sentimento é exactamente que a terra havia sido retirada dos zimbabweanos, sentiram-se traídos por que tiveram a oportunidade nos anos 80. As pessoas não só ocuparam a terra e se estabeleceram, trabalharam-na e sentem que lhes pertence. Os agricultores trabalham a terra, não só do ponto de vista de aumentar a produção, mas também de oportunidade de emprego, pois um grande número de pessoas trabalham nestes novos farmeiros e assim criam riqueza.
Not- Diz-se que a terra foi dada a elite próxima de Mugabe, foi isso que constataram?
JH- Não constituiu a verdade. Existem 23 mil pessoas dessa classe que tiveram acesso à terra. Mas Mugabe não tem 23 mil associados. Podemos dizer que provavelmente 10 por cento da terra está com a elite, mas no livro estamos a olhar para 90 por cento dos que detêm fazendas ou terra arável. Há alguma terra que está com os pequenos agricultores, não os mais pobres, porque para ter acesso à terra era preciso provar que se tem o capital de investimento e as pessoas que tinham casas em Harare hipotecaram-nas para investirem na agricultura. O mais importante é saber que de facto há alguns partidários de Mugabe que obtiveram terra, nos 10 por cento de titulares de terras, mas não podemos gastar tempo a falar desses. A maior parte do livro foca os 90 por cento, sem ignorar, claro, os 10 por cento. Visitamos alguma farmas de pessoas da elite, muitos deles sem habilidades para tal, mas colocaram bons gestores e estão a ter bons resultados. Visitamos uma farma de um ministro e essa estava exportando laranja e batata. Ser da elite e ter uma fazenda não equivale a ter uma fazenda ociosa.
Not - Existe algum paralelismo com a agricultura em Moçambique?
JH - Uma coisa interessante na que diferença entre o Zimbabwe e Moçambique é que os zimbabweanos vêem a terra como meio de acumulação de capital, eles pensam que se pode fazer dinheiro com a agricultura, isso a todos os níveis. As elites zimbabweanas que têm terra sabem que podem ficar ricas com a agricultura e alguns irão certamente ficar. Os camponeses pobres acham que podem fazer dinheiro e estão fazendo. Há casos de professores que viraram agricultores porque sabem que podem fazer mais dinheiro do que dando aulas. Não vemos isso aqui em Moçambique. Não vemos ministros dizer que se pode fazer dinheiro com a agricultura. São realidades diferentes. Não basta ter terra para ir passar os fins-de-semana, é preciso ter terra para fazer dinheiro.
Not- Como é que os agricultores conseguiram ser bem sucedidos?
JH- Os zimbabweanos não tiveram subsídios. Tiveram que achar maneiras para sobreviver. Os doadores não apoiaram a reforma da terra. Estes agricultores tiveram que ser imaginativos, criativos, num processo em que a sua educação foi muito importante. Os agricultores de sucesso reinvestiram os seus ganhos na própria terra. Eles planificaram sempre a época seguinte. Com o dinheiro das vendas da colheita compram insumos, sementes e fertilizantes para a campanha seguinte.
  • Manuel Mucari

Guebuza é intransigente





Alice Mabota acusa:
“O Chefe do Estado moçambicano não é flexível, não é pelo diálogo..."
A activista dos Direitos Humanos, Alice Mabota, acusa o presidente da República, Armando Guebuza, de ser intransigente e de não mostrar vontade de dialogar sobre assuntos que interessam e inquietam os moçambicanos.
A presidente da Liga dos Direitos Humanos, que falava hoje numa conferência de imprensa sobre a situação política do país, com destaque para a tensão e onda de violência em Muxúnguè, referiu que o silêncio de Armando Guebuza causa estranhesa e sugere cumplicidade no assunto.
“O Chefe do Estado moçambicano não é flexível, não é pelo diálogo e ninguém entende o que vai na sua alma e no seu pensamento ao deixar que uma coisa como a violência de Muxúnguè ocorra. O presidente Chissano era uma pessoa que primava pelo diálogo e, por isso, havia tranquilidade no país, diferentemente do actual Chefe do Estado que não prioriza o diálogo e entendimento”, afirmou a activista.
Mabota diz não entender por que usar a força para resolver as reivindicações da Renamo, uma vez que as mesmas são de natureza política.
 “A questão dos homens Armados da Renamo a que, de forma recorrente, as autoridades se referem quando se aproximam os pleitos eleitorais é um problema político e não criminal, uma vez que deriva dos Acordos Gerais de Paz e deve ser resolvido como tal”, disse.
O PAÍS – 17.04.2013

Dr. SINAI NHATITIMA – antigo procurador-geral.




Dr. Sinai Nhatitima – antigo procurador-geral.
Magistrado  jubilado, aos 70 anos, Sinai Nhatitima, antigo procurador-geral da república, conta que recebeu da bancada da Frelimo, no informe do PGR de 1997, uma resolução contra,  pelo facto de ter dito que “havia figuras que se julgavam intocáveis”.
O Dr. Sinai Nhatitima teve uma trajectória invejável na magistratura moçambicana. Como é que chega à magistratura, sabido que antes de ingressar exerceu outras funções?
Eu chego à magistratura depois de ter passado por várias situações. Comecei a trabalhar na Direcção Nacional de Estradas. Na verdade, foi o meu primeiro emprego, era escriturário; depois passei para a chefia da contabilidade militar; estive nos serviços de estatística e depois passei para o professorado, tudo isto no período colonial. Depois de 25 de abril, quando trabalhava nos serviços de estatística, tinha  a necessidade de continuar a estudar. Aliás, antes de 1975 conclui o sétimo ano dos liceus. A minha intenção era continuar a estudar e tirar o curso de direito. Na altura, não existia esse curso em Moçambique e acabei-me matriculando no curso de história, em 1973, mas depois soaram os ventos da independência e a possibilidade de haver um curso de direito em Moçambique. Tive que abandonar os serviços de estatística para o professorado, também estava no curso de história, fazia sentido que fosse ao professorado dar o meu contributo. Embora estivesse no primeiro ano, tinha noção e, para aquela época, era uma das poucas pessoas que podia ajudar os alunos. É desta maneira que saí da estatística e vou para o professorado na escola Secundária da Matola (...). quando é aberto o curso de direito, fui um dos primeiros alunos a ingressar.
De abril a Dezembro de 1978 fez parte do primeiro grupo de magistratura, a par de outras figuras  como Mário Mangaze, Joaquim Madeira, João Carrilho, entre outras, que tinha a missão de divulgar o ante-projecto da lei de Organização Judiciária e implementação dos primeiros tribunais populares. Como é que foi esta experiência? Quais foram as dificuldades e sucessos na sua implementação?
Importa referir que ingressei primeiro no Ministério da Justiça, porque em 1978 fazia parte do primeiro grupo de alunos que estava a concluir o bacharelato. Houve uma indicação para os estudantes com bacharelato avançarem para várias tarefas e os alunos foram espalhados por diferentes sectores e, a mim, calhou o Ministério da Justiça, juntamente com outras figuras que mencionei.
Curiosamente o que mais queria!
(risos) era o que queria... Então, é daí que surge esta tarefa de avançar para as províncias, para fazer o ante-projecto de lei da organização judicial, ou seja, os futuros tribunais populares. Eu, um colega que já é falecido, o Dr. Cláudio Nhandava, e um escrivão avançámos para Inhambane. Estivemos um ano a fazer a divulgação. foi, para mim, um momento de muita aprendizagem; foi interessante, não era apenas divulgar, era também dialogar com a população, ouvir as suas contribuições. Percorremos distritos, as populações tiveram a oportunidade de dizer o quê este projecto de lei podia melhorar neste e outro aspecto. Fazíamos a recolha da informação e no fim compilávamos. Oito meses depois regressámos a Maputo e realizou-se uma conferência nacional para o estudo das contribuições harmonizadas. Só depois desse trabalho é que ingressámos na magistratura.
Voltei para inhambane com Cláudio Nhandava como juiz-presidente do tribunal provincial e como delegado do procurador da República em 1979. Fiquei três meses e o ministro da Justiça teve que me movimentar para Sofala. fui a Sofala como juiz da Secção Criminal, na altura, a única que existia. Só que como se isso não bastasse, acabei acumulando a função de presidente da Secção Criminal com a de presidente do tribunal popular de Sofala. Além de ser presidente do tribunal era director provincial da Justiça. Eu tinha que fazer julgamentos, dirigir o tribunal, apoiar o governo em tudo que era necessário. Foi desta maneira que ingressei na magistratura, por via da magistratura do Ministério Público, mas acabei passando para a magistratura judicial. depois voltei à magistratura do Ministério Público. Em 1980, fui nomeado vice-procurador-geral da República.
 Onde gostaria de ter ficado?
Na verdade, gostei de todo o lado pelo qual passei. como sabe, estive no Ministério Público, passei duas vezes pela magistratura judicial, depois administrativa, isto é um privilégio para mim, é um caso único no país de um magistrado que percorreu estas áreas todas. O único sítio pelo qual não passei foi o tribunal constitucional.
O que eram, na verdade, os tribunais populares?
Os tribunais populares eram tribunais do governo e tinham a consagração na constituição. Tinham as suas regras de funcionamento. Não se deve pensar que eram diferentes dos tribunais actuais. A filosofia, os princípios até podiam ser diferentes, tendo em conta a orientação política vigente naquele momento, mas eram tribunais que obedeciam aos princípios básicos de um tribunal, de um órgão judicial, simplesmente a característica principal que tinham era a participação dos juízes eleitos, figuras que até hoje existem, mas nessa altura tinham muita força. Na altura ia buscar-se pessoas da comunidade, eleitas pelas assembleias locais, para representarem o povo nos tribunais populares.
Com o alcance da independência, olhando para os primeiros anos da justiça em Moçambique e tendo em conta que ainda éramos uma nação em construção, quais foram as maiores dificuldades encontradas para aplicação da lei nos vários domínios sociais?
Tivemos muitas dificuldades de recursos materiais, financeiros e humanos. Por exemplo, no tribunal de Sofala, estava eu e um juiz (José Abudo, agora provedor de justiça) e mais um delegado. tínhamos muitas dificuldades. Quando chegámos, encontrámos processos acumulados devido ao abandono dos magistrados portugueses. Tivemos que derrubar montanhas até chegar a uma situação normal. Não foi fácil criarmos mais secções criminais de trabalho. Hoje, há mais de 10 juízes no tribunal de sofala.
Actualmente, a lei garante a independência do poder judicial. Olhando para trás, como era vista e feita a justiça com o sistema de partido único?
A justiça era feita com princípios de independência e imparcialidade. Há quem diga que, por causa do sistema político, os magistrados estavam amarrados. Pela expressão que passavam, não posso negar que possa ter havido, mas nunca tive uma interferência directa do poder político e sempre que tentaram soube explicar as pessoas. As pessoas faziam de propósito (pelo facto de estarem num determinado órgão podiam, por exemplo, ditar ordens ao tribunal e ao juiz). Mas a única coisa que fazia era explicar as pessoas de acordo com a lei.
Isso não lhe foi caro?
De nenhuma forma. Houve, não por parte dos dirigentes que trabalhavam directamente, mas à volta havia pessoas que o faziam no interesse pessoal e invocavam o nome do partido. Eu percebia que a orientação não era do partido. Se calhar hoje pode estar também a acontecer. Alguém de um órgão do partido ter um interesse pessoal que o faz confundir com o interesse colectivo ou do próprio partido. Julgo que deve estar acontecer agora. Então, tive que enfrentar algumas dificuldades nesse sentido, em que algumas pessoas não satisfeitas com as respostas que recebiam da minha parte tentavam influenciar ao nível do partido (aquele juiz é isto, aquele juiz é aquilo), mas tudo foi esclarecido antecipadamente e continuo a trabalhar...
Dr. Nhatitima, se permite, estamos a fazer esta Grande Entrevista numa altura em que celebra 70 anos de vida. Vamos intercalar a sua carreira profissional com o lado familiar. Sei que é muito apegado à família, em particular à sua esposa. Qual foi o papel que a sua família desempenhou para o sucesso na  carreira, olhando para os vários cargos que ocupou na magistratura e não só?
Na verdade, a minha família desempenhou um papel preponderante, particularmente a minha esposa e continua a desempenhar.
Mesmo aos 70 anos continua apaixonado?
(Risos) Se não estivesse não estaria com ela.
O papel da minha esposa não começa quando entro para a magistratura, começa no momento em que nos casámos. Estava a concluir o terceiro ciclo dos liceus, no liceu Salazar. na altura, era jovem e, às vezes, destraía-me do meu papel de estudar, mas, sempre que isso acontecesse, a minha esposa lá estava para dizer vai à escola, sempre jogou este papel. No momento que me distraía, ela lembrava-me que  a tarefa principal naquele momento era estudar. Era uma mulher aconselhadora.
Entre 1979 e 1985 foi juiz-presidente do Tribunal Popular da Província de Sofala. Qual era a relação que tinha com o dirigente da província, curiosamente, o actual Chefe do Estado, Armando Guebuza?
Trabalhei com vários dirigentes, entre os quais o actual Chefe de Estado; trabalhei com o falecido general Matavele. Sofala foi uma província que mereceu muita atenção, veio o ministro Mariano Matsinhe, depois veio Armando Guebuza e, por fim, trabalhei com Marcelino dos Santos.
As minhas relações com o actual chefe de estado eram boas e construtivas. Não obstante, em certos momentos tivemos que dialogar bastante, em assuntos que eu tinha uma certa visão, sobretudo na área dos trabalhos dos tribunais populares. Na altura, os tribunais populares acabavam de ser criados nos bairros e estavam a desenvolver um trabalho intenso. Isso chocou em termos do poder que os grupos dinamizadores vinham exercendo. O aparecimento dos tribunais populares veio esvaziar os poderes que os grupos dinamizadores tinham sobre as populações. Com este aparecimento, houve momentos de fricção e a mesma levou a que parte dos grupos fosse reportar o lado político. Esta situação levou a uma reflexão por parte do partido e chegou-se a ventilar a hipótese de se extinguir os tribunais populares e manter os grupos dinamizadores, passando as competências novamente para aqueles grupos. houve um diálogo intenso entre o presidente do tribunal e o dirigente da província. Discutimos bastante e fiz entender que não era viável e isso iria “ofender” a Constituição da República. Continuámos a dialogar (...) nunca tive problemas em manifestar as minhas opiniões quando algo não fosse de acordo com a lei.
Foi sempre frontal?
sempre na posição de esclarecer os princípios que deviam ser observados, naturalmente. Esse diálogo acabou influenciando o meu crescimento.
Consta que nessa altura, os dirigentes do partido Frelimo, na província de Sofala, olhavam-o com alguma desconfiança, por não se fazer presente às reuniões político-partidárias. Aliás, a sua atitude de não fazer parte dessas reuniões chegou ao dirigente da província. Armando Guebuza convidou-o a justificar-se? O que aconteceu realmente?
Eu acumulava a função de director da secção criminal, a minha prioridade não estava do lado do partido. Eu dava mais prioridade ao tribunal do que ao governo. Sempre justifiquei por que as coisas eram assim com o actual chefe de estado...
Voltando para o lado familiar, a meio da carreira teria perdido um casal amigo e, curiosamente, ligado à justiça. Quando muitos abandonaram as crianças do casal assassinado, decidiu-se pela guarda das mesmas. Aliás, uma delas hoje ocupa um cargo ministerial. O que o motivou a tomar tal atitude?
Eu penso que está a falar de um colega meu, o Alberto Nkutumula. Primeiro, o pai era meu colega e vivíamos no mesmo prédio; ao nível do trabalho, criámos uma forte relação e fomos desenvolvendo esse espírito, depois passamos para as nossas crianças. Durante aquele acontecimento fatídico, ele tinha 13 anos (Alberto Nkutumula). então, apareceram muitas pessoas para ajudar, só que eu, depois da minha nomeação como vice-procurador-geral da República, mudei para outro local e eles continuaram naquele prédio, entretanto, vinham almoçar na minha casa. À noite os meus filhos traziam-os para casa, introduziam-os sem que me apercebesse. Nas noites, acabávamos ouvindo movimentações estranhas. reuni com os meus filhos e confessaram que havia problemas com os amigos. A partir daí, alguns passaram a viver connosco, outros foram acolhidos por outras famílias. Os meus filhos eram amigos deles. Procurámos junto da APIE uma residência para eles e, felizmente, o director da APIE localizou uma flat e foram saindo.  Foi uma satisfação na vida. Todos têm cursos universitários.
Durante vários anos, em Moçambique funcionou a “Lei da Chicotada”. o que pensa sobre aquela lei?
O que penso dessa lei é o mesmo que penso de outras leis que surgiram na altura. A lei da Chicotada surgiu num contexto em que o país vivia uma escassez alimentar, em 1983. Os produtos alimentares tinham que ser distribuídos equitativamente, só que, como sempre, havia pessoas que não queriam partilhar com os outras. A assembleia popular aprovou a lei para acabar com essa arrogância. Grande parte da população passava mal e uma minoria tinha alguma coisa. não foi pacífica, havia intenção de haver outra alternativa, outra saída para enfrentar a situação, mas a assembleia assim tinha instituído. Os tribunais tinham que aplicar a lei. Por vezes, a lei pode chocar, mas os magistrados têm mecanismos para expressar esse choque e resolver de uma forma pacífica. mas vigorou por muito pouco tempo.
Um dos episódios da sua carreira, na província de Sofala, deu-se aquando da visita do Presidente da República, falo de Samora Machel, que, na hora da sua despedida, no aeroporto, de regresso a Maputo, voltou para si e disse algo. Como foi este momento?
Foi um momento dramático. Foi um momento de aprendizagem. O presidente Samora Machel foi visitar a província de Sofala. Na altura, no momento da chegada, os dirigentes deviam ir recebê-lo e, quando regressava, deviam ir despedir-se. Estavamos todos perfilados, saudou a todos e chegou a minha vez. Depois, caminhou até às escadas do avião e voltou, foi ter comigo e disse: “são vocês que não querem aplicar a lei da chicotada”. Voltou para o avião, foi-se e todo o mundo ficou sem saber o que realmente tinha acontecido.
Na altura, o actual Presidente da República compreendeu a situação, chamou-me, conversámos e explicou-me com detalhes a reacção do presidente Samora.
O PAÍS – 17.04.2013

terça-feira, 16 de abril de 2013

SOBRE O PROCESSO ELEITORAL




Já passam duas semanas após a tomada de posse dos órgãos eleitorais que compõem a Comissão Provincial de Eleições na Zambézia, num processo em que alguns seguimentos da Sociedade Civil nesta parcela do pais, dizem não ter sido transparente.
Como se sabe, a Comissão Provincial de Eleições na Zambézia é constituído maioritariamente pela Organização Nacional dos Professores, ONP que entra com três membros. Esse processo, deixa muita indignação no seio dos que entendem a matéria.
Entretanto, mesmo com esta indignação dos bem entendidos, há um silêncio cúmplice no seio da chamada Sociedade Civil que participou no processo de organização e selecção das candidaturas para o provimento dos lugares que haviam nos órgãos eleitorais.
Nem o Observatório Eleitoral, que liderava este processo, muito menos a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Fórum das Organizações Não Governamentais da Zambézia (FONGZA) e outras organizações existentes nesta província e porque não na cidade, ninguém abre a boca para dizer alguma coisa. Todos responsáveis destas organizações estão remetidos a um silêncio desconfiante, um silêncio que provavelmente mostra que há alguma coisa no seio destas organizações. Isso, dá mais azo ao líder da Renamo, Afonso Dlhakama, quando diz que não há sociedade civil neste país, todos, segundo o líder da Renamo, estão “metidos” na Frelimo.
O tempo vai passando e o nosso jornal, tem feito de tudo para falar com os líderes destas organizações da Sociedade Civil, mas a resposta que temos tido é de que ainda estamos analisar este processo.
Várias vezes, tentamos falar com os responsáveis do Observatório Eleitoral que liderou este processo de recolha e selecção das candidaturas, mas não tivemos sucessos até agora.
E o mais grave ainda é que sabe-se que a LDH tem juristas que conhecem esta matéria incluindo os prazos de quando é que devem remeter um possível recurso para impugnação deste acto, mas também não há rosto e nem voz que se digne a fazer nada.
Entretanto, fontes anónimas disseram nos que esta terça-feira, esta tal Sociedade Civil foi convidada para participar num encontro organizado pela Comissão Provincial de Eleições afim de saberem da deliberação em torno deste processo.
MDM na mesma onda
Entretanto, apesar do jornal Canal de Moçambique editado na cidade de Maputo na sua edição desta segunda-feira ter avançado que o Movimento Democrático de
Moçambique (MDM) na voz do seu porta-voz não vê com bons olhos este processo, na cidade de Quelimane e porque não na província da Zambézia toda, ninguém fala nada sobre este processo. Há um silêncio igual ao da Sociedade Civil por parte do MDM que só tem apenas um membro na Comissão de Eleições. Este silêncio do MDM remete-nos a uma reflexão sobre as inquietações do líder da Renamo sobre a paridade na Comissão Nacional de Eleições e a pergunta que se coloca é a seguinte:
Será que o MDM esta conformado por ter um membros na CNE? Não haverá aqui um medo de um dia, o governo ceder as exigências da« Renamo e dai o MDM não ter ninguém, olhando pela forma como está representado na Assembleia da República? São perguntas que neste momento não tem resposta, mas depois dos pleitos eleitorais, provavelmente as respostas poderão vir. Mas enquanto isso, os eleitores vão convivendo com esta forma de ser e de estr quer dos partidos assim como da Sociedade Civil.
DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 16.04.2013