quinta-feira, 11 de abril de 2013

LUISA DIOGO em "Grande Entrevista"




Luísa Diogo em “Grande Entrevista”.
A antiga primeira-ministra diz que deixa o Parlamento para se dedicar aos negócios privados, pois, durante os seus mandatos como governante, não confundia agendas. Quando recebia empresários, estes sabiam que não discutiam com um concorrente. Por isso, falavam-lhe abertamente. Estas são partes de uma entrevista que passa na íntegra, esta noite, na STV.
C ompleta, amanhã, 55 anos de idade. Quando olha para trás, que imagem tem do seu percurso profissional?
Foi um percurso normal, de uma mulher moçambicana, com grandes desafios e algumas realizações, com muita honra de ter servido em várias posições o nosso país e por continuar a servir o Estado através do meu partido.
Quando e como entra na política activa?
Dos meus 55 anos que vou fazer, cerca de 40 dediquei à vida política.  Na década de 80, altura em que comecei a trabalhar no Ministério das Finanças, já era militante do partido, na base da simpatia e não pelo cartão, e foi nessa altura que percebi que tinha uma consciência patriótica. No Ministério das Finanças, comecei como técnica do Gabinete de Estudos, na área de investimentos, depois subi para chefe de secção, e, mais tarde, para chefe de repartição. Depois tornei-me chefe de departamento, directora-adjunta, directora nacional, vice-ministra, ministra do Plano e Finanças e primeira-ministra. Na área política, comecei a militar, na altura, em Bela Vista, porque, quando viemos de Tete, o meu pai ficou colocado lá, em Matutuíne. Nessa altura era jovem, fazia trabalhos para OJM, OMM, participava em trabalhos de alfabetização e educação de adultos, actividades culturais e, mais tarde, vim a trabalhar na área de mobilização. Durante as campanhas eleitorais, militei em Tete, nas zonas de Angónia, Tsangano, e mais tarde como chefe da Brigada Central a nível da Zambézia e também de Gaza, membro do Comité Central, da comissão política e, agora, membro do Comité Central. A nível do Estado, depois de ter cessado funções, em 2010, fiquei no parlamento como deputada da Assembleia da República e, neste momento, decidi suspender  o meu mandato para fazer outras actividades.
Um dos grandes debates da actualidade é a questão dos mega-projectos. Ora, a Mozal foi negociada em 1996 e construída em 1998. Na altura, o projecto teve muitos benefícios fiscais. Não acha que é altura de se renegociar com a Mozal? Aliás, estudos revelam que em cada 20 dólares de encaixe dos accionistas da Mozal, apenas um fica com o Estado moçambicano...  
Eu penso que devemos evitar fazer uma abordagem deste tipo a um determinado projecto com este enfoque, criando desconforto no parceiro que está nesse projecto. Eu penso que devemos fazer uma abordagem mais global, de um contexto específico da economia moçambicana. Na altura em que a Mozal foi negociada, o país tinha acabado de fazer as eleições multipartidárias e estava a arrancar com a reconstrução nacional. Recordo que, em 1996, mesmo o índice de inflação, até ao fim do ano 1995 e princípios de 1996, rondava pouco mais de 50%, isto significa que o contexto nacional, em termos de infra-estruturas económicas, estradas, pontes, abastecimento de água, a nível da educação, o índice de analfabetismo era extremamente elevado. Mesmo em termos de procedimentos técnico-administrativo para aprovação de projectos, lembro-me que a Mozal foi negociada por uma equipa específica, que foi constituída na base de quadros escolhidos em cada sector, do Ministério do Plano e Finanças, da Indústria e Comércio, da Agricultura, da Construção e Águas. Criou-se um grupo e foi-lhes dito: “Nós queremos este projecto em Moçambique e o objectivo é que ele seja a nossa sala de visitas e de atracção de investimentos. Negoceiem e vamos fazer o devido acompanhamento, dando as devidas orientações”. Então, o código de investimento existente na altura era baseado nas condições objectivas do país. Neste momento, Moçambique é um outro país, evoluiu, isto é reconhecido por nós os moçambicanos e deve ser reconhecido pelos parceiros internacionais, sejam os investidores ou parceiros de apoio ao próprio Orçamento do Estado. Isto significa que o código de investimento preparado por Moçambique, com as facilidades de investir que apresenta hoje, é diferente, as exigências são diferentes. Quando nos sentámos com o parceiro que investiu na altura, não devemos dizer-lhe que ‘olha, você não paga nada’, devemos mostrar-lhe que o contexto mudou, ele tem outro tipo de condições no país e que é verdade que construiu uma engenharia financeira do projecto, olhando para determinados indicadores económicos, mas agora a condição mudou. Há necessidade de vermos o que se pode fazer para partilharmos melhor os resultados do projecto. Ainda digo mais: o código de investimento actualmente existente em Moçambique não é um produto acabado, porque o país continua a evoluir, o tipo de incentivos que damos agora, eu acredito que daqui a quinze anos não vamos dar. O que dávamos há dez anos não é o que damos hoje. Eu recordo-me que, quando nós andávamos pelo mundo a fazer a atracção de investimentos, lançar o nome de Moçambique no mercado internacional, fazíamos uma introdução de cerca de dez minutos, as pessoas olhavam para nós e diziam que é a ministra está a falar, é natural que fale bem de Moçambique, mas logo a seguir eu dava a palavra ao homem da Mozal. Ele pegava no microfone e todo o mundo ficava atento, porque se tratando de um investidor a falar, eles acreditavam mais, e diziam: ‘Se esta empresa está a aplicar pouco mais de dois biliões de dólares naquele país, por que eu não posso aplicar 600 milhões de dólares ou um bilião de dólares? Então, era uma forma de atrair investimentos para o nosso país’.
É notável que as vozes à volta das renegociações dos mega-projectos se intensificam. Como é que acha que o governo deveria abordar este assunto?
Eu penso que devemos abordar tal como temos abordado até agora, com serenidade. Segundo, temos que estar juntos. Na altura, dizíamos ajuda externa, a seguir dizíamos dívida e, agora, comércio. Este triângulo deve funcionar efectivamente. Os parceiros de desenvolvimento na área de ajuda externa, que passaram a ser parceiros na área da dívida externa, criando espaços para Moçambique investir em diversos sectores, estes mesmos parceiros devem ter a mesma coragem, persistência, clareza e visão, quando abordam a área de comércio, que significa investimento. Ou seja, devemos conversar com eles da mesma maneira, porque estas multinacionais que investem estão em determinados países, como Japão, Reino Unido, Estados Unidos da América, isto quer dizer que, quando nós abordamos um investidor desta natureza, temos que ter cuidado, para que as relações diplomáticas não sejam afectadas, para não criarmos hostilidades, para que eles nos ajudem neste processo de renegociação. O importante é saber fazer estas renegociações, com a devida serenidade, sem grandes emoções, e nada de campanhas, porque pode deteriorar a imagem dos investimentos que Moçambique tem actualmente.
Para já, julga que estão criadas condições para o governo colocar a proposta de renegociação dos mega-projectos com as multinacionais?
Eu penso que não tem que haver momentos certos, como se a Lurdes Mutola fosse arrancar para correr e atingir a meta. Cada projecto tem o seu momento e a abordagem deve deslizar. não pode ser uma abordagem estanque, do tipo ‘olha, eu vim aqui, quero renegociar o seu projecto’. Tem de ser uma abordagem que é para lá, porque estes projectos trabalham em diversas áreas. Por exemplo, a Mozal teve as fases 1 e 2, e tem vindo a falar na fase 3. Então, com a Mozal, há abordagens muito seguras e tranquilas em relação a Moçambique. quer dizer que a Mozal veio para ficar e quer dialogar, ficar bem com as autoridades, e penso que nós moçambicanos temos que saber fazer as coisas.
Olhando para as recentes descobertas dos recursos, pode concluir -se que, quando mal gerida a riqueza proveniente deles, pode gerar maldição, provocando conflitos e guerras, como em alguns pontos do continente africano. Que políticas o país deve adoptar, de forma a evitar estes males?
Eu penso que as estratégias de desenvolvimento do país em relação aos seus pilares devem continuar válidas. No primeiro pilar, a unidade nacional, a paz, a democracia devem ser sempre a base para o desenvolvimento do país. Este é o pilar que nos dá a razão de ser como moçambicanos. A paz e a democracia são os que consubstanciam a que esta nação continue estável e forte. Por um lado, a democracia permite que nós dialoguemos e aceitemos as diferenças.  Por outro lado, a paz é construída na base desse entendimento, dessa acomodação que os moçambicanos têm, e eu creio que a paz começa dentro de cada um de nós. Se uma pessoa parece estar sempre zangada consigo mesma, naturalmente, ela não consegue irradiar a paz. O segundo pilar é o do Estado moçambicano, que nasceu em 1975 e está a crescer e fortalecer-se. O Estado forte deve demonstrar que é capaz de assegurar aos cidadãos um ambiente em que possam resolver os seus problemas, como pessoas, indivíduos, sociedade e como famílias, portanto, este Estado deve ter a sua força, que é demonstrada pela capacidade que tem de fazer com que os moçambicanos se sintam tranquilos e em paz, sintam a justiça sobre eles próprios e sintam que há uma justiça social para eles realizarem as suas actividades. E finalmente, o terceiro pilar, que é o do combate à pobreza e o desenvolvimento. Eu acho que este pilar é o mais complexo da estratégia de desenvolvimento de Moçambique, e é por isso que os moçambicanos se antecipam sempre no seu debate. Neste momento, os moçambicanos estão a debater os proveitos provenientes dos recursos naturais, especificamente os minerais, de que só daqui a oito ou dez anos vamos ver os resultados. Eu acho que isso é bom, porque os moçambicanos querem fazer de maneira diferente dos outros países, querem ser capazes de prevenir, de influenciar as decisões. Então, este pilar de combate à pobreza e desenvolvimento tem consigo este conceito de inclusão que acabou de referir. Nós não estamos a dizer que é pôr as pessoas numa fila de espera e começar a distribuir pão. A inclusão desenvolve-se através da participação de cada um de nós no processo. Para tal, as pessoas têm que ser formadas, têm que ter acesso ao conhecimento relevante. É necessário que todos os moçambicanos participem em pleno e efectivamente no processo de desenvolvimento, para que a riqueza seja suficiente para todos. A questão da inclusão é importante no combate à pobreza. E, finalmente, o enquadramento de Moçambique no contexto mundial, continental e na região da SADC, que é um aspecto ligado à cooperação internacional, a amizade com todos, sempre dentro da cultura de reduzir qualquer possibilidade de inimigos e ampliar mais os amigos. Estes pilares de desenvolvimento são fundamentais para contextualizar a exploração dos recursos minerais. Não podem ser vistos de uma forma isolada, mas sim dentro de um contexto em que outros recursos naturais também mereçam a devida prioridade, porque nem todos os 22 milhões de habitantes devem viver à base dos recursos naturais, mas o efeito multiplicador destes recursos é conquistável.
Para atrair investimentos ao país, é preciso que a estabilidade seja plena. Olhando actualmente para os pronunciamentos de Afonso Dhlakama e aquilo que são os objectivos do país, como é que interpreta estes discursos?
Eu acho que este é um elemento que o país precisa de ultrapassar, um elemento que não deve ser ignorado, nalguns casos pode tornar-se ameaçador, noutros pelo menos incomodativo. É daquelas coisas que, por vezes, pensamos que estamos a esquecer, mas está lá sempre pendente. Então, é bom ver a maneira como os moçambicanos estão a abordar este assunto. eles estão permanentemente atentos a esta questão, através do seu posicionamento individual, colectivo, das suas religiões, das ONG, através das próprias comunidades, do grupo académico, da empresa, tanto nos momentos em que sentem que há sinais específicos por parte do governo, como nos momentos em que não há sinais específicos. Este movimento global do país, individual e colectivo de que quer uma paz plena, eu penso que é uma abordagem boa, e uma pressão necessária para que, efectivamente, desapareça essa sensação de que alguma coisa está por se resolver.
O discurso de combate à pobreza parece não estar a trazer resultados desejados. Ora vejamos: o relatório do PNUD sobre o Índice de Desenvolvimento Humano coloca o país na lista dos mais pobres do mundo, quase na cauda. Internamente, o IOF, Inquérito Sobre o Orçamento Familiar, mostrou que o número de cidadãos pobres aumentou. Será que as políticas traçadas estão a falhar?
Eu aprendi a respeitar as instituições do Estado, respeito o Instituto Nacional de Estatística, primeiro, por conhecer o percurso que esta instituição fez. É um instituto credível a nível nacional, regional e internacional, é o segundo melhor instituto de Estatística em África, apoia países da região, sem exclusão, dá aconselhamento ao Instituto de Estatística da África do Sul. Tenho muita dificuldade de contestar números divulgados pelo INE. Quando a instituição divulga números, goste ou não deles, eu tenho a disciplina de os aceitar. Em 1997, quando, pela primeira vez, o Instituto Nacional de Estatística trouxe o resultado do inquérito sobre a pobreza das populações, feito durante doze meses, recordo-me, foi de Março de 1996 a Abril de 1997, os mesmos eram muito incomodativos, não eram animadores, tínhamos o nível de pobreza extremamente alto, havia províncias como Sofala, onde tínhamos 89% de pobres, Zambézia tinha indicadores extremamente alarmantes, Gaza tinha indicadores assustadores. então, a dada altura, eu tive que ir falar com o Presidente Chissano. Apresentei-lhe os resultados, lembrei-lhe que tínhamos eleições no ano seguinte e perguntei-lhe o que fazia com aqueles resultados. A resposta dele foi: “O seu compromisso com este país não termina nem começa com as eleições autárquicas. O seu compromisso e o da Frelimo com este país é perene, então, estes dados devem ser divulgados, mas com uma solução junto a eles. Daí nós fizemos uma consulta geral para identificar as causas ou determinantes daquele resultado e aí fomos tirar as conclusões: o nível de abastecimento de água era extremamente baixo, as distâncias percorridas para buscar água e saúde eram grande. De seguida, implementámos planos de acção para combater esses problemas. Com isso, quero dizer que há dados do INE que às vezes incomodam, mas o que é necessário é olhar para eles, debatê-los e organizar-se para os enfrentar.
A sua opção de deixar o parlamento para se dedicar à presidência do Barclays causou certa estranheza. A que se deveu? Será que está desiludida com a política?
Não. Eu gosto de política, conforme deve ter notado, agora que estamos a falar de política, os meus olhos estão a brilhar mais. Eu acho que é a política que nos leva a sonhar em relação ao futuro do país, a pensar no povo de uma maneira mais construtiva, com uma visão mais risonha, a realizar os nossos objectivos. Por isso, eu continuo a ser uma política activa. A minha saída do parlamento do nosso país, para me dedicar com mais tempo à área privada, não somente para me dedicar ao Barclays - como sabe, nesta instituição bancária eu sou presidente do conselho de administração não executiva -  é para ter o tempo necessário para os meus projectos pessoais. Eu, durante todos os meus mandatos no governo, não confundia as agendas: os empresários, quando iam ao meu escritório, sabiam que não iam discutir com um concorrente, abriam o jogo e eu encaminhava-os e aconselhava. Não tive oportunidade de me desenvolver como empresária, por uma questão de opção, porque eu queria confiança daqueles que participam na frente empresarial na área de desenvolvimento do país, são eles que fazem a riqueza nacional. Efectivamente, de segunda a sexta-feira, eu tinha três dias só para receber empresários. Agora, chegou o momento de combinar a vida política com o sector privado. Dos três milhões de militantes da Frelimo, apenas temos 191 deputados; dos 22 milhões de moçambicanos, só temos 250 deputados. Há uma grande massa da Frelimo noutras frentes de batalha, onde estão a fazer muito bem o trabalho. Eu também quero experimentar.
Qual é o seu futuro político?
O futuro político da minha vida será ditado pela Frelimo, só o meu partido pode responder a essa pergunta. Eu não sei viver fora da Frelimo, é ali onde me realizo como pessoa.
A Frelimo ainda não tem um candidato às eleições presidenciais de 2014. Se, eventualmente, for indicada para assumir esse desafio, qual será o seu posicionamento?
 «Jornal O País»

terça-feira, 9 de abril de 2013

O PREVARICADOR


Roma imperial já utilizava mercenários, revoltaram-se eles em Cartago e inúmeras vezes na sede do império, a partir de um certo momento ditavam quem ascendia ao poder. Na época medieval e
 inícios da Idade Moderna, surgiram os mercenários suíços, vítimas da miséria nas suas montanhas.
Hoje subsistem os suíços na guarda papal, mais decorativos que operacionais, embora houvessem participado no passado nas guerras entre o poder papel e os seus inimigos. No século XIX a França criou a Legião Estrangeira, que existe até aos nossos dias, alimentada por foragidos da justiça, e já nos anos que se sucederam II Guerra Mundial, à Guerra da Indochina e Argélia, por antigos nazis, soldados à busca de emprego, etc. A África do Sul do apartheid a eles recorreu, Batalhão Búfalo, gente raptada noutros países, voluntários vindos da Rodésia e da Europa.

Desde 1949 que Convenções de Genebra e seus protocolos adicionais proíbem o mercenarismo  em África, desde 1997 que a OUA interdita essa infâmia.
Nos nossos dias em que os Estados Unidos em especial levam a cabo conflitos em várias partes do mundo, quando as baixas de nacionais americanos criam reacções negativas na opinião pública, o recurso a mercenários generalizou-se, chegando a mostrarem-se os seus números superiores aos das tropas americanas, em especial no Afeganistão e Iraque. A doutrina militar americana e em países do Primeiro-Mundo tende a valorizar cada vez mais as empresas privadas de segurança, a privatizar as guerras, transferindo as baixas para os mercenários.
De destacar que se tornam cada vez mais importantes os mercenários provindos das fileiras das antigas tropas e grupos especiais do apartheid.
Paralelamente buscam-se robots que substituam as tropas e multiplicam-se os ataques, assassinatos e mortandades com os chamados drones, aviões não pilotados, telecomandados ou programados de antemão para atingirem os alvos.
Se, pelo caminho, ficam vítimas inocentes, bem, apenas se registam anónimos danos colaterais.
Há que destacar o papel dos mercenários e guerras privatizadas em África, assim como dos drones.
Nos tempos mais recentes os mercenários mostraram-se essenciais na secessão do Catanga e no assassinato de Lumumba.
Dados indiciam que um avião de fabrico francês, Fouga Magister, tripulado por um mercenário belga, estaria envolvido em Setembro de 1961 no derrube do avião que transportava o então Secretário-Geral da ONU, Dag Hammarsjkold. Bob Denard, francês que serviu militarmente na Indochina e depois trabalhou para organismos estatais franceses, esteve também a soldo do apartheid, promoveu vários golpes de estado nas Comores e até tentou proclamar-se Chefe de Estado.
Mercenários constituíram a elite das forças do Biafra secessionista.
O Zimbabué deteve e julgou e condenou mercenários sul-africanos comandados por um britânico, Simon Mann, antigo oficial britânico que se preparavam para atacar a Guiné Equatorial. Afirmou, Simon Mann que operava em conjunto e parceria com Sir Mark Thatcher, residente na África do Sul, filho da antiga Primeira-Ministra britânica.  
Nas guerras sujas de diamantes contra sangue, na Serra Leoa e Libéria, esta escumalha constituiu uma força determinante. Muitos ataques contra o regime derrubado na Líbia levaram-se a cabo com mercenários e drones.
Há que reconhecer, tristemente, que nenhum Tribunal Penal Internacional se preocupou com mercenários brancos, embora as convenções internacionais pertinentes não discriminem raças, cores da pele, religiões. Sem ironias baratas há que constatar que o TPI apenas serve para julgar sérvios e negros.
Várias empresas de segurança no nosso país pertencem, sobretudo aos antigos do apartheid e mercenários saudosistas do colonialismo português.
Parece que os efectivos destas forças, nos números, se mostram superiores ao dos totais dos membros das nossas Forças Armadas e PRM juntos. Há que reflectir  Criará esta situação um problema de segurança nacional? Obviamente, que elementos armados, comandados e dirigidos por estrangeiros com passados duvidosos suscitam preocupações bem legítimas e sérias para quem reflectir sobre o problema, sobretudo conhecendo o historial passado desses dirigentes das empresas privadas de segurança que aqui operam.
Parece que algumas antigas ou actuais altas patentes estariam envolvidas como sócios dessas empresas. Há negócios que sujam belas histórias de realizações. A nódoa numa toalha limpa e branca fica muito mal.
Neste continente já testemunhamos muitas barbas de vizinhos a arder, faz pois sentido para precaver males maiores que púnhamos as nossas de molho e com extintores bem perto.
Um abraço à prudência,
Sérgio Vieira
P.S. Em Moçambique, na clandestinidade, sob a tortura, sob massacres e prisões, com armas na mão lutou-se para libertar a terra e os homens.
Os recursos naturais no solo, no subsolo, nas águas, nas plataformas continentais libertaram-se com sangue, suor e lágrimas, para beneficiar o povo, estas gerações e as vindouras.
Agora descobriu-se que uma transnacional do gás queria fazer fora do país uma transacção substantiva sobre recursos nossos, para diminuir o que pagaria de impostos.
Muito bem, o que impede o Estado de sancionar? De não autorizar a venda e até cancelar a licença de prospecção dessa empresa por notória má- fé, encoberta com argucias jurídicas?
Um abraço a uma riposta firme e não negociada, castigue-se o prevaricador,

sexta-feira, 8 de março de 2013

O DIA DA MULHER





Sua mãe lhe carregava dentro de seu ventre por nove meses inteiros, ela sentiu-se mal durante meses com náuseas, então ela viu seu pé inchar e seu estiramento da pele e desgaste.

Ela lutou para subir escadas, ela ficou sem fôlego rapidamente e até mesmo uma tarefa simples como a colocação de seus sapatos em foi uma luta enorme para ela. Ela sofreu muitas noites sem dormir enquanto você chutou e se contorceu dentro dela e, enquanto você exigiu que ela zombou lixo em três horas, ela então passou por uma dor insuportável para lhe trazer a este mundo.

Ela tornou-se sua enfermeira, seu chefe, sua empregada, seu motorista, seu maior fã, seu professor, sua agonia e sua melhor amiga. Ela lutou por você, chorou por você, lutou por você, colocou-se em segundo plano por você, esperava o melhor para você e fica louca de preocupação por você, mas nunca pediu nada em troca, porque ela te ama e fez tudo por esse amor só!

CARTA AO PRESIDENTE




Por Laurindos Macuácua
Feliz sexta-feira, Presidente Guebuza. Então, algum comentário acerca da recente morte de Hugo Chávez? Eu fiquei muito triste quando soube da notícia. Associei-me aos venezuelanos pobres que perderam, de certa forma, o seu farol. Foi assim que me senti quando Samora morreu. Claro que era muito miúdo ainda, mas algo no meu interior me dizia que hi ta sala hi swi vona- havemos de ficar a ver.
E estamos a ver mesmo! Mesmo quem é cego consegue ver esta cortina de ferro que separa o povo da elite da Frelimo. O povo deixou de acreditar na equidade e na justiça, porque vê os corruptos impunes e os jogos de poder a duas mãos, atiraram-nos, novamente, para a tradicional apagada e vil tristeza. Sinceramente não sei o que o senhor Presidente da República faz na cadeira do poder. Ainda não se fartou? Estou a falar consigo, Presidente?
O Presidente teve conhecimento de que um compatriota nosso foi brutalmente assassinado pela polícia sulafricana?
Se sim, então, por que ainda não se pronunciou? Zuma, o seu homólogo sul-africano, teceu alguns comentários. O Armando Guebuza nada! Morreu? É menos um na estatística. Ou seja, é uma baixa, como se diz na gíria militar.
Contudo, Presidente, queremos a nossa madeira. Ela não é do Pacheco e muito menos do senhor. É do povo: dêm-no. Que Governo é esse que não tem vergonha de ver as crianças sentar no chão nas escolas enquanto leva a nossa madeira e vende aos chineses a preço de banana? Se vendêssemos condignamente a tal madeira não teríamos carteiras para os nossos alunos? Não teríamos transporte à fartura? Quer dizer que os chineses é que conhecem a importância da madeira e nós não? Queremos a nossa madeira. E tenho a certeza que a madeira, leve o tempo que levar, vai ser devolvida ao povo.
Nunca vamos vergar antes de ter o que é nosso, por direito, de volta. Nós, o povo, não estamos para suportar os corruptos da Frelimo e os seus filhos. Queremos o que é nosso. Uma pergunta, senhor Presidente: afinal, o que foram fazer em Nachingweia? Aprender a arte de ganhar sem ter razão? Como é que um revolucionário vira delapidador da sua pátria? Como é que aquele moçambicano que foi ovacionado pelo povo quando chegou, triunfalmente, a Lourenço Marques virou este sanguinário? Afinal, a intenção era arrancar o chicote da mão do colono para ficar na sua mão? Que vergonhoso! Será que vocês, Presidente, os da Frelimo têm coragem de se olhar ao espelho? Qual é a imagem que está lá? Do guia da nação ou de um parasita qualquer que suga o povo até a última gota do sangue?
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 08.03.2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

EDUARDO MONDLANE JAMAIS SERIA DITADOR





Moçambicano, académico americano, funcionário da ONU, primeiro presidente da FRELIMO, amigo de Adriano Moreira, casado com uma americana branca, procurou com insistência a independência pela negociação. Portugal recusou. Recorreu à guerra. Ouvido na Administração Kennedy, influenciou a estratégia americana em África. Foi líder considerado na Europa, em Moscovo e em Pequim. Procurou que Moçambique não caísse na dependência das potências da guerra-fria. Veio a pagar com a vida a sua independência. Encontra-se nesta obra, entre outros inéditos, o strategy paper entregue por Mondlane aos americanos em 1961, e outro do mesmo ano que um grupo de portugueses da área do regime fez chegar a Salazar pela mão de Franco Nogueira, sugerindo uma nova política externa e ultramarina.
In http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=9492
*José Manuel Duarte de Jesus nasceu em Lisboa, em Dezembro de 1935, tem formação académica nas áreas de História, Filosofia e Lógica Matemática. Diplomata desde Dezembro de 1960, carreira interrompida apenas entre 1965 e 1974, serviu em diversos países da Europa Ocidental e de Leste, do Maghreb, da África sub-sahariana, da Ásia e da América. É actualmente docente do ISCSP, da UTL, tendo já publicado outras obras sobre a Ásia e a China.
Recordo:
Eduardo Mondlane jamais seria ditador - segundo José Duarte de Jesus, historiador português
O Primeiro Presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Eduardo Mondlane, jamais teria sido ditador, pois era um académico e diplomata, com uma visão estratégica global, que queria uma independência responsável e, se possível, negociada para o seu país e não estabelecer um regime revolucionário de obediência ideológica, considera José Manuel Duarte de Jesus, doutorado em História das Relações Internacionais e Embaixador jubilado de Portugal.


Duarte de Jesus falava durante o Simpósio Internacional de dois dias, realizado em Maputo, que tinha por objectivo resgatar a história que caracterizou o percurso da construção da identidade e personalidade de Mondlane.
“É muito difícil prefigurar em Mondlane um dos futuros ditadores africanos, finalmente desajustados à realidade sociológica”, disse Duarte de Jesus à sua audiência, apresentando uma comunicação preparada para a ocasião, intitulada “Condicionantes e Pressupostos Académicos e Culturais no Projecto Político de Eduardo Mondlane”.
Segundo Duarte de Jesus, Mondlane situava-se dentro da família do socialismo democrático, que existia em certas regiões da Europa, na década de 60, mas com uma forte componente africana, anti-totalitária e anti-burocratica.
Na ocasião, Duarte de Jesus teve o cuidado de explicar aos presentes que não era sua intenção fazer uma análise psicológica de Mondlane, mas sim tentar juntar alguns elementos de análise da personalidade política de Mondlane, num contexto global e local, e num quadro “macro”, sem excluir os aspectos “micro”, associados com a sua formação e seu modo de pensar, que são importantes para contextualizar as linhas estratégicas do seu pensamento.
Para o efeito,  o orador adverte ser imperativo ter prudência para evitar qualquer tendência para catalogar politicamente uma personalidade histórica como Mondlane, algo que também poderá ser inútil.
Com isso aquele académico pretendia evitar um debate sobre o tema se Mondlane teria sido ou não marxista, que segundo as suas palavras ainda é uma questão que parece preocupar alguns sectores da opinião moçambicana.
Para Duarte de José, esta questão assume apenas uma relevância na concepção teórica do seu pensamento político, pois “Mondlane apresenta-se-nos como a concretização histórica e simbólica da utopia moçambicana de ter uma pátria”.
Aliás, numa entrevista concedida a 7 de Dezembro de 1965 ao “War and Peace Report”, uma revista editada nos Estados Unidos da América (EUA), Mondlane afirma que a Frelimo deseja um governo democrático baseado num “governo de maioria”. Na mesma entrevista, quando questionado sobre a ideologia da Frelimo (se era comunista), Mondlane responde que “a nossa ideologia é a independência”.
Associando este e outros pressupostos, o académico e diplomata Duarte de Jesus conclui que não parece que Mondlane tivesse tendências marxistas.
Ademais, “não se encontram, na sua formação anglo-saxónica, elementos de natureza hegeliana que pudessem conduzir o seu pensamento para uma tendência de explicação do mundo de cariz marxista. Daqui que o seu pensamento político tenha sido profundamente pragmático”, vincou Duarte de Jesus.
A noção de “revolução” de Mondlane parece estar mais próxima da noção do filósofo austríaco Karl Popper de “peaceful social engeneering” (engenharia social pacífica, tradução literal em português), do que de um processo leninista de ruptura, como seria natural esperar de alguém que é antropólogo antes de ser sociólogo ou político, defende aquele académico.
Duarte de Jesus disse ainda que Mondlane também teria manifestado não estar interessado num modelo cubano para Moçambique.
“Mondlane disse claramente que não aceitava o modelo cubano para o futuro de Moçambique”, disse o académico.
Concluindo, Duarte de Jesus disse que Mondlane foi assassinado num dos períodos mais difíceis da sua vida política em termos de estratégias que deveria conceptualizar e pôr em prática no interior de uma Frelimo dilacerada por correntes e personalidades muito diversas, tendo sempre como objectivo manter a unidade do movimento.
Também era difícil face à interface que queria estabilizar entre as questões internas e a geostratégia da Guerra Fria, no quadro global.
Por isso, na óptica de Duarte de Jesus, Mondlane procurou salvar a independência de Moçambique não só do colonialismo português, mas das ameaças de quaisquer outros colonialismos, que se prefiguravam no horizonte africano das pós-independências ou das guerras pelas independências.
Neste quadro, Mondlane e a sua estratégia eram profundamente incómodos tanto no quadro micro que o rodeava, como no contexto macro em que a sua guerra se inseria.
Em suma, “Eduardo Mondlane era um alvo que interessava a muitos abater”, conclui Duarte de Jesus, que diz acreditar que “o seu desaparecimento mudou negativamente o evoluir da situação em Moçambique, a África perdeu um líder e uma referência invulgar, e Portugal perdeu, numa perspectiva de futuro a médio e longo prazo”.
Notícias  - 24.06.2009

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

MAS VALEU A PENA!



 
 
                                                                                             
                                                                                                    
 
           EM 1956 nasceu um indivíduo, na zona sul da província de Tete, mais concretamente na área entre os rios Zambeze e Chire ( Inhangoma). Em plena era colonial, conheceu todas as amarguras da vida daquela época, a falta de roupa, alimentação adequada, assistência médica e medicamentosa, toda uma série de necessidades básicas para uma vida humana e digna. Para não deixar de salientar o fenómeno de segregação racial, que se vivia por todo o  país(Moçambique). Aos sete anos ingressou numa escola primária missionária.
          Na condição de indígena não assimilado, a única via, era apenas estudar nesse tipo de ensino. Foi uma vida difícil,tinha que percorrer  diariamente vinte e cinco quilómetros para escola. Na mesma sala de aulas compartilhavam duas classes e com o único professor.
         As actividades domésticas, essas não faltavam, pastar cabritos,caçar gazelas e animais de pequeno porte, pescas etc. Tudo isso, era tido como o quotidiano de um jovem normal e obediente  e granjeava prestígio no seio de populares.É o que interessava à juventude da época...
            Em 1968, após uma longa batalha de vaivém   consegue concluir o ensino primário, numa situação muito difícil. Se bem que todos os alunos missionários, eram obrigados a prestarem exames da quarta classe, numa escola oficial (do governo), com nota zero,conhecer bem a geografia , história de Portugal e o hino nacional de Portugal. Portanto,  o aluno tinha como obrigação, no ensino primário conhecer teoricamente Portugal e a história dos portugueses. Os exames sempre eram duros para os alunos das missões, especialmente nas provas orais.
           Com a quarta classe feita, julga-se meio caminho andado. Era necessário procurar Vilas da época, para um possível emprego. Foi assim que em 1970 descobre uma vila açucareira na província de Sofala (Marromeu). Valeu a pena conhecer este povo hospitaleiro, meigo e amável. Praticamente foram dois anos convivendo com esse povo, em plena época colonial.
            O desejo ardente era  uma possível progressão na esfera social (desafio de todo mundo), para tal , se chega na cidade da Beira em piores condições. Ora bem, isso acontece como havia dito em plena época colonial, as coisas não eram tão fáceis como se esperava de uma cidade como Beira, dominada economicamente pela classe de elite colonial. Opção inicial para sobreviver:( se transforma num serviçal, em quase dois anos neste tipo de actividade de sobrevivência, sujeitando à uma série de vicissitudes da época).
          Mas valeu a pena, e as portas iam-se abrindo. Primeiro pela intensificação da luta pela libertação de Moçambique, liderada obviamente pela FRELIMO. A consciência patriótica se apodera a toda gente oprimida, a esperança pelas mudanças e a independência nacional, era a conversa de cada esquina entre os oprimidos.
              Finalmente os acordos pela paz foram alcançados, e abriram-se os novos horizontes, alfabetização, educação de adultos e o conceito de produção e produtividade se vigora. O novo rumo dependia dos esforços de cada um dos moçambicanos.
              Finalmente, se consegue concluir o nível básico com sucessos, e pode-se ingressar numa grande empresa, então estatal, Caminhos de Ferro de Moçambique como funcionário de estado, estamos a referir os meados de 1977, durante dois anos de intensos trabalhos, em 1979 é transferido para da antiga TRANZ-ZAMBEZIA-RAILWAYS (TZR), linha de Sena, mais concretamente na Estação de Dona Ana em Mutarara, por sinal sua terra natal.
 
           Os imperativos da nação,em 1975, aos 25 de Junho o povo Moçambicano celebrou a sua independência nacional total e completa,  surgem desafios para todo moçambicano, o slogan, chamamento à Pátria.   O país passou a ter imensas dificuldades pelos ataques de vizinhos , de governos minoritários, refere-se ao Rodésia do Sul(Zimbabwe) e o Apartheid da África do sul, que não só atacavam, como também criavam elementos internos, para se revoltarem contra o sistema então implantado. Isso tudo culminou com a criação do Serviço Militar Obrigatório.
             Foi um privilégio  participar no Exército  sendo do grupo do primeiro recrutamento nacional.
            Tendo assim, prestado o S.M.O escrupulosamente  desempenhando funções de elite nas das forças populares de libertação de Moçambique, assim como era chamado o exército, não foi o mundo de rosas, amigos a perderem as vidas e alguns mutilados, estamos a falar o tempo da guerra dos 16 anos. A pressão era maior no seio das forças armadas, se bem que a logística tinha uma série de dificuldades em abastecer em víveres e produtos afins para os militares em todo o país. Foi um sacrifício tremendo, para todos aqueles que optaram abraçar o exército  pelo chamamento, se bem que alguns camaradas fugiam das fileiras,sem deixarem rastos. É verdade!
            Em 1982 quase no fim, se passa à disponibilidade e o regresso às funções anteriores, foi um grande alívio para a família,  encontrar os pais, irmãos, amigos e até colegas de serviço. Um grande sonho realizado!...
 
                                                                                  ( A infância é uma inocência!)
 
 
 
                Quando se regressa da tropa se pretende que tudo se faça. Não foi fácil retornar a vida civil, porém, não precisava de procurar o emprego, se bem que, fora funcionário antes, na empresa caminhos de ferro. Fosse como fosse, tinha que começar de novo. O noivado rompido, companheira  pensado que fosse morrer na guerra, arrumou o melhor o que pode.
                O sector de recursos humanos achou melhor lhe enviar para Mutarara,  a  Estação de Dona Ana, para onde  foi reconduzido, em plena guerra dos dezasseis anos, instala-se aqui. Depois de algum tempo ganha estatuto de sub-chefe. Casa-se aqui pela  religião e pelos  registos civil, com a sua inesquecível falecida, Nazaré da Costa Nobre.
                 É! era necessário arregaçar as mangas, para enfrentar nova vida, o profissionalismo e chefe da família   no sentido muito vasto, teve que velar pelos seus pais e seus irmãos. O salário não correspondia positivamente, entretanto, fez tudo quanto pode para ajudar os seus próximos. Utilizou a zorra manual, veículo ferroviário sem motor, transportando batatas doce, da Localidade de Chavundira (Mutarara-velha) para Dona Ana. Por vezes. ia ao rio Chire, trazendo de lá peixe fresco. Essa actividade sem grandes rentabilidades, deu o que deu na altura, a ponto de ter criado uma pontinha de inveja nos irrefletidos,  a vida sempre foi assim! Os homens não procuram muitas vezes medir os esforços dos outros, senão questionar os resultados de esforços destes.
                   " Eu dizia, de mim para mim, repetindo o dito do Doutor António Oliveira Salazar, "quem não tem inimigo não tem valor",embora com uma dose de politica, essa afirmação faz bem sentido em muitos casos concretos."
                    Pelo amor que tem por Mutarara, tem estado a dizer para muita gente, que senão fosse a guerra naquela altura,  ainda estaria lá vivendo com a sua família. Talvez nem toda a desgraça cairia tão rápido na sua esposa,tem pensado assim! Por que tudo teve a ver com desgraça da guerra dos dezasseis anos. Isso é verdade! De Mutarara saiu-se apenas com as  vidas nas mãos, como se fosse uma mercadoria perecível  Porque um pequeno descuido era a morte certa. A vida  durante a guerra foi um inferno que não dá    recordar  por muito tempo...


                  Porem, recordar é viver, enquanto vivos o  passado vai-se transpirando, digamos, transbordando para a nova geração, essa geração que parimos. Trazendo-nos netinhos e a esses descuidadamente transferimos as nossas entranhas. Nunca se deve dizer, esqueço tudo, enquanto continuamos fecundos. Essa nova geração alegra aos mais velhos, aos avós

                      A fecundidade é uma lógica de eternidade. Somos fecundos e eternos!
                                        (Nhansoa)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

GOGODANE

       Uma vasta zona ao sul do posto administrativo de Inhangoma em Mutarara, rica em agricultura, todos os anos fazia-se duas épocas da colheita, especialmente o milho.
       Gogodane, nome de um rio resultado de vários riachos que se juntaram quase próximo do rio Chire, surgindo um leito de quase cinco quilómetros de comprimento, drenando suas águas no Chire.
       Para além das suas margens proporcionarem ricas terras para agricultura, o rio Gogodane era rico em pescado, muitos jovens iam lá pescar de anzóis e os mais velhos praticavam pesca artesanal, construindo uma espécie de cercos nas margens, utilizando o caniço,eram profissionais, uma actividade que cobriam todas as necessidades domésticas.
       Esta zona conheceu pela primeira vez, uma escola primária missionaria católica em 1964, leccionando apenas pré-primária e primeira classe, para completar o ensino primário e quem pudesse, arriscava-se a percorrer vinte e cinco quilómetros para a Missão da Nossa Senhora do Carmo em Traquino, uma pequena vila, com lojas e a sede do posto administrativo de Inhangoma e o respectivo centro missionário.
       Para matar saudades,em 2011 no mês de Dezembro viajei até Gogadane, confesso que foi uma grande ilusão, encontrei meia dúzia de palhotas, hoje a região está quase desabitada, as actividades que mencionei atrás já não se faz sentir com as mesmas dimensões.
       As constantes cheias, muitas vezes originadas pela barragem hidroeléctrica de Cabora Bassa, como medida preventiva, o governo criou novas zonas de reassentamento, uma nova vida e outra forma de se viver. O que requer algumas infraestruturas, escolas, postos de saúde, estradas e um impulso na parte do governo para ressurgirem comerciantes formais bem estruturados.
       O rio Gogodane permanece nas mesmas dimensões e no mesmo lugar com variadíssimas qualidades de peixes, incluindo o famoso peixe pende, o que me cria nostalgia!

                                                        MISSÃO NOSSA SENHORA DO CARMO



               CARRO DO SR. PADRE EM INHANGOMA            
                           ( Images tiradas em 2011 em Dezembro)