terça-feira, 4 de junho de 2013

Profissionais de Saúde marcham em Maputo



Greve_saude_macrhasCENTENAS de profissionais de Saúde, entre médicos, enfermeiros, serventes e outro pessoal de apoio, marcharam ontem por algumas artérias da cidade de Maputo, com as bocas amordaçadas em protesto contra o alegado silêncio do Governo face às suas reivindicações.
Maputo, Quarta-Feira, 5 de Junho de 2013:: Notícias
A marcha, que marcou o 15º dia da greve dos médicos seguiu um itinerário diferente ao inicialmente programado, tendo partido da sede da Associação Médica de Moçambique (AMM), na avenida Eduardo Mondlane até a Praça da Paz.
O porta-voz da AMM, Paulo Samo Gudo, disse que o trajecto da marcha foi redefinido à última hora alegadamente por a Polícia ter desaconselhado a passagem pelas instituições de soberania, tal é o caso do gabinete do Primeiro-Ministro, que às terças-feiras acolhe a sessão do Conselho de Ministros.
Para além de bocas amordaçadas, os participantes da marcha empunhavam pratos vazios, em protesto às condições salariais, e ainda dísticos com dizeres como “saúde organizada sempre a vencer”, “cuidar de quem cuida” e “juramos salvar vidas, mas não juramos morrer a fome”. 
Samo Gudo explicou que esses dizeres demonstram que os grevistas continuam com o mesmo espírito, que é de cuidar do povo, à espera que alguém cuide da classe, mas estão apenas a receber um silêncio do Governo, que deveria responder as suas preocupações.
O porta-voz da AMM acusou ainda o Executivo de não pretender dialogar com os profissionais de Saúde e de apostar na ameaça e intimidação para travar a greve.
"A nossa luta é contra a desigualdade no tratamento dos funcionários do Estado pelo que nada vai parar este movimento enquanto as exigências dos profissionais de Saúde não forem resolvidas", acrescentou.
Justificou essa afirmação pelo facto de terem já efectuado negociações que paralisaram a greve de 15 de Janeiro último, mas, segundo disse, as cláusulas do memorando foram unilateralmente violadas.
No entanto, a porta-voz do Ministério da Saúde, Francelina Romão, reiterou ontem a disponibilidade do Governo, através do MISAU, em prosseguir o diálogo com os médicos, de modo a se encontrar uma solução para a greve.
“A maioria dos profissionais de Saúde já está nos seus locais de trabalho e é mais fácil o diálogo quando as pessoas já estão a trabalhar. Nós continuamos a fazer apelos àqueles que ainda não se apresentaram nos seus sectores de actividade para retomarem. É importante conversar com as pessoas enquanto trabalham porque os doentes continuam a aparecer. Não é justo, não é humano ficarmos nesse impasse enquanto as pessoas precisam dos serviços. Enquanto trabalhamos vamos discutindo e nos organizarmos, fazemos um cronograma do que melhorar em seis meses, um ano, por aí em diante”, acrescenta Romão.
Enquanto isso, o porta-voz da AMM reiterou ontem que a associação não concorda com a equipa indicada para o diálogo porque esta não tem poder de decisão e nos encontros insiste em querer discutir ainda a legalidade da greve.
O diferendo mantém-se porque os médicos rejeitam o aumento de 15 por cento de salário decretado pelo Governo e exigem um incremento de 100 por cento, uma subida de 35 por cento no subsídio de risco e a aprovação do Estatuto Médico pelo Parlamento.
Por sua vez, o Governo defendendo um aumento faseado dos salários dos médicos face à alegada incapacidade de sustentar um aumento salarial de 100 por cento.

Situação estacionária noutros pontos do país

Maputo, Quarta-Feira, 5 de Junho de 2013:: Notícias
MAIS médicos continuam a regressar na cidade da Beira aos seus postos de actividade em consequência dos múltiplos apelos que vem sendo feitos pela sociedade. Sem entrar em detalhes, o médico-chefe provincial, Francisco Gulingue, disse ontem à Reportagem da nossa Delegação da Beira, que a nível da Direcção de Saúde da Cidade três médicos já voltaram à actividade sucedendo o mesmo com alguns outros cujo número não especificou que regressaram ao Hospital Central da Beira.
Segundo soubemos, 14 dos 104 médicos do HCB continuam a observar a greve numa altura em que os serviços mínimos também continuam a estar garantidos em todos os sectores daquela unidade sanitária.
O médico-chefe provincial disse ainda que contrariamente à primeira semana da greve o atendimento hospitalar está agora ‘’muito melhor’’, embora tenha reconhecido haver alguma morosidade.  
Enquanto isso, doentes sofrendo de várias enfermidades nas cidades de Maputo e Matola com familiares na província de Inhambane têm estado a procurar socorro para tratamento das suas doenças nos hospitais públicos daquela região do sul do Save.
De acordo com o director provincial de Saúde em Inhambane, Naftal Matusse, o hospital provincial tem estado a receber doentes para fazer consultas daquelas zonas do país, desde que iniciou a greve a 20 de Maio último.
Matusse disse que Inhambane conta neste momento com três faltas, sendo duas médicas do Hospital Rural de Quissico e um do hospital provincial. Os enfermeiros que tinham aderido à paralisação laboral nos primeiros dias, já retomaram suas actividades.
Todavia, aquele dirigente disse que o regresso dos grevistas ainda não é acompanhado pelo atendimento aceitável nas unidades sanitárias, havendo por isso a necessidade de se desenvolver um trabalho de sensibilização dos técnicos para trabalharem com profissionalismo.
Naftal Matusse disse que no trabalho de sensibilização, a comunicação social joga um papel importante não só chamando à razão os técnicos de saúde, como também apelando à população para o regresso aos hospitais públicos, pondo de lado o espectro de medo e incerteza que se viveu nas últimas duas semanas.
Por seu turno, o impacto da greve que os médicos vêm observando no país, está cada dia mais incipiente na província de Manica. Todas as unidades sanitárias estão a funcionar em pleno e salvo pequenos sinais de desleixo, todos os funcionários da Saúde comparecem todos os dias nos seus postos de trabalho.
Apenas dois dos 47 médicos afectos a várias unidades sanitárias da província de Manica, é que continuam em greve, sendo o primeiro no Hospital Provincial e o segundo no Centro de Saúde de Chitobe, no distrito de Machaze.
O Director Provincial de Saúde de Manica, Juvenaldo Amós, minimiza o problema e considera que a ausência daqueles profissionais de Saúde, não abala, por enquanto, o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde na província, com o recurso aos médicos estrangeiros, técnicos e estudantes do instituto local de Ciências de Saúde.

Hospital de Cuamba funciona normalmente

Maputo, Quarta-Feira, 5 de Junho de 2013:: Notícias
No Hospital Rural de Cuamba, unidade que atende igualmente doentes provenientes das regiões de Mecanhelas, Metarica, Nipepe (Niassa) e Malema (Nampula), os quatro médicos ali afectos e o pessoal de enfermagem e auxiliares estão a cumprir normalmente com a escala de serviço.
“Apesar de estarem a observar a greve, todos os médicos e 170 quadros de enfermagem e auxiliares, estão nos seus postos a trabalhar normalmente”-disse Elias Mula, director daquela unidade hospitalar.
Segundo o governador do Niassa, David Malizane, a greve deve ser sim um instrumento de pressão para diálogo, mas não se pode substituir este método por abandono de pacientes nos leitos dos hospitais como advogam certos profissionais de saúde.
Enquanto isso, na província de Nampula o atendimento aos pacientes nas diversas unidades sanitárias de referência continua a ser feito dentro da normalidade.
Armindo Tonela, director provincial de Saúde, reconheceu, contudo, que no Hospital Central, o pessoal ali em serviço, chamado a cobrir a vaga deixada pelos 21 médicos que aderiram à greve, trabalha sob uma grande pressão.
Entretanto, o padre Eugénio Mutimucuio, da Igreja Católica, e presidente do Comité de Co-Gestão no Hospital Provincial de Xai-Xai, em Gaza, disse ontem ao nosso Jornal que “independentemente da justeza ou não das reivindicações dos médicos, nada justifica que sejam sacrificadas vidas de pessoas inocentes por falta de assistência médica”.
Por outro lado, Mutimucuio lamentou o facto de os mentores desta greve terem chegado ao cúmulo de nem sequer acautelarem a necessidade de se garantir os serviços mínimos indispensáveis, como tem sido prática corrente em qualquer parte do mundo.
Num outro desenvolvimento, o nosso entrevistado fez um apelo vigoroso tanto ao Governo, como aos médicos, no sentido de dialogarem com um único objectivo de solucionar o problema da privação do direito à vida, defendendo apenas a defesa dos que sofrem inocentemente.
A nossa fonte, teceu palavras de respeito e consideração, por todos aqueles profissionais que não obstante reconhecerem a justeza das reivindicações por melhores salários e condições de trabalho para a classe médica, continuam incondicionalmente a dar seu máximo na assistência aos pacientes, de forma a se evitar perdas de vidas nos nossos hospitais.
Segundo a nossa fonte, caso se mostre necessário a Igreja, como sempre, está totalmente aberta a ajudar na busca de uma solução deste problema, pelo bem da sociedade.

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